terça-feira, 1 de março de 2011

muitas coisas pra ler

Fresta

Em meus momentos escuros
Em que em mim não há ninguém,
E tudo é névoas e muros
Quanto a vida dá ou tem,
Se, um instante, erguendo a fronte
De onde em mim sou aterrado,
Vejo o longínquo horizonte
Cheio de sol posto ou nado
Revivo, existo, conheço,
E, ainda que seja ilusão
O exterior em que me esqueço,
Nada mais quero nem peço.
Entrego-lhe o coração.

Timidez

Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
- mas só esse eu não farei.
Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
- palavra que não direi.
Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
- que amargamente inventei.
E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
e um dia me acabarei.

Antes de Amar-te...

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono

Anseios

Meu doido coração aonde vais,
No teu imenso anseio de liberdade?
Toma cautela com a realidade;
Meu pobre coração olha que cais!
Deixa-te estar quietinho! Não amais
A doce quietação da soledade?
Tuas lindas quimeras irreais,
Não valem o prazer duma saudade!
Tu chamas ao meu seio, negra prisão!
Ai, vê lá bem, ó doido coração,
Não te deslumbres o brilho do luar!...
Não 'stendas tuas asas para o longe...
Deixa-te estar quietinho, triste monge,
Na paz da tua cela, a soluçar...

Anjos do Céu

As ondas são anjos que dormem no mar,
Que tremem, palpitam, banhados de luz...
São anjos que dormem, a rir e sonhar
E em leito d'escuma revolvem-se nus!
E quando de noite vem pálida a lua
Seus raios incertos tremer, pratear,
E a trança luzente da nuvem flutua,
As ondas são anjos que dormem no mar!
Que dormem, que sonham- e o vento dos céus
Vem tépido à noite nos seios beijar!
São meigos anjinhos, são filhos de Deus,
Que ao fresco se embalam do seio do mar!
E quando nas águas os ventos suspiram,
São puros fervores de ventos e mar:
São beijos que queimam... e as noites deliram,
E os pobres anjinhos estão a chorar!
Ai! quando tu sentes dos mares na flor
Os ventos e vagas gemer, palpitar,
Por que não consentes, num beijo de amor
Que eu diga-te os sonhos dos anjos do mar?

Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento,
e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto...

Arte de Amar

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.
A alma é que estraga o amor.
Só em Deus ela pode encontrar satisfação.
Não noutra alma.
Só em Deus — ou fora do mundo.
As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

Iniciação amorosa

A rede entre duas mangueiras
balançava no mundo profundo.
O dia era quente, sem vento.
O sol lá em cima,
as folhas no meio,
o dia era quente.
E como eu não tinha nada que fazer vivia
namorando as pernas morenas da lavadeira.
Um ida ela veio para a rede,
se enroscou nos meus braços
me deu um abraço,
me deu as maminhas
que eram só minhas.
A rede virou,
o mundo afundou.
Depois fui para a cama
febre 40 graus febre.
Uma lavadeira imensa, com duas tetas imensas,
girava no espaço verde.

EU ESCREVI UM POEMA TRISTE

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!

Um pouco de William Shakespeare


a doença do não escutar... o que me aflige.
****
Deuses imortais! Rogo por mim e por ninguém mais.
que jamais cresça em meu peito um coração que
confie num juramento ou numa afeição.
****
A dúvida prudente é considerada o farol do sábio.
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A natureza humana geralmente carece de poder
para igualar as estranhas criações da imaginação.
A liberdade indócil é domada pela própria desgraça.
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A fortuna é puta nobre, Nunca se abre para um pobre.
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É comum perder-se o bom por querer o melhor.
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Da loucura dos grandes não se pode descuidar.
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Chorar é diminuir a profundidade da dor.
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A teia de nossa vida é composta de fios misturados: de bens e de males.
Nossas virtudes se tornariam orgulhosas sem os açoites
de nossos defeitos, como os nossos vícios desesperariam,
se não fossem alentados pela virtude.
****
A reflexão melhor trabalha nos seres mais frágeis.
****
A vida dele era mansa e os elementos,
estavam tão fundidos nele que poderiam
levantar-se e dizer a todo mundo:
"Ele era um homem".
****
Apagaram-se as velas da noite e o dia levanta-se,
pé ante pé, nos enevoados topos das montanhas.
****
Conservar algo que possa recordar-te seria
admitir que eu pudesse esquecer-te.
****
Dizem que a velhice é a segunda infância.
****
A glória do tempo é acalmar os reis em conflito.
****
A liberdade indócil é domada pela própria desgraça.
****
Aquele que gosta de ser adulado é digno do adulador.
****
Bem-pago está quem por satisfeito se dá.
****
Choramos ao nascer porque chegamos a
este imenso cenário de dementes.
****
A paz não pode ser mantida pela força;
só pode ser conseguida pela compreensão. 
Escrito por Jorge Tadeu às 17h09
 

Realidade

Em ti o meu olhar fez-se alvorada
E a minha voz fez-se gorgeio de ninho...
E a minha rubra boca apaixonada
Teve a frescura pálida do linho...
Embriagou-me o teu beijo como um vinho
Fulvo de Espanha, em taça cinzelada...
E a minha cabeleireira desatada
Pôs a teus pés a sombra dum caminho...
Minhas pálpebras são cor de verbena,
Eu tenho os olhos garços, sou morena,
E para te encontrar foi que eu nasci...
Tens sido vida fora o meu desejo
E agora, que te falo, que te vejo,
Não sei se te encontrei... se te perdi...

Por decoro

Quando me esperas, palpitando amores,
E os lábios grossos e úmidos me estendes,
E do teu corpo cálido desprendes
Desconhecido olor de estranhas flores;
Quando, toda suspiros e fervores,
Nesta prisão de músculos te prendes,
E aos meus beijos de sátiro te rendes,
Furtando às rosas as purpúreas cores;
Os olhos teus, inexpressivamente,
Entrefechados, lânguidos, tranqüilos,
Olham, meu doce amor, de tal maneira,
Que, se olhassem assim, publicamente,
Deveria, perdoa-me, cobri-los
Uma discreta folha de parreira.

Poemas para todas as mulheres

No teu branco seio eu choro.
Minhas lágrimas descem pelo teu ventre
E se embebedam do perfume do teu sexo.
Mulher, que máquina és, que só me tens desesperado
Confuso, criança para te conter!
Oh, não feches os teus braços sobre a minha tristeza não!
Ah, não abandones a tua boca à minha inocência, não!
Homem sou belo
Macho sou forte, poeta sou altíssimo
E só a pureza me ama e ela é em mim uma cidade e tem mil e uma portas.
Ai! teus cabelos recendem à flor da murta
Melhor seria morrer ou ver-te morta
E nunca, nunca poder te tocar!
Mas, fauno, sinto o vento do mar roçar-me os braços
Anjo, sinto o calor do vento nas espumas
Passarinho, sinto o ninho nos teus pêlos...
Correi, correi, ó lágrimas saudosas
Afogai-me, tirai-me deste tempo
Levai-me para o campo das estrelas
Entregai-me depressa à lua cheia
Dai-me o poder vagaroso do soneto, dai-me a iluminação das odes, dai-me o [cântico dos cânticos
Que eu não posso mais, ai!
Que esta mulher me devora!
Que eu quero fugir, quero a minha mãezinha quero o colo de Nossa Senhora!

o galo







o silêncio
com suas equações
             de estrelas
abre os portais
da madrufgada

sob os olhos atentos
do infinito
um quarto de lua
empresta a partitura
                  ao galo


(do livro Sem Meias Palavras – lau siqueira)


OS DIREITOS AUTORAIS E O MINC - Preocupante a posição conservadora da ministra da cultura acerca dos direitos autorais no Brasil e, especialmente, em relação ao ECAD. O eCAD, como bem li em um artigo, é uma “aberração jurídica”. Por já ter tratado diretamente com esses senhores, compreendo muito bem que não se trata de uma instituição séria emais: o ECAD é um atentado aos direitos autorais. Uma instituição privada, criada na ditadura militar, certamente para enxer o bolso de alguns. Pois a ministra, parece, não quer discutir essa situação. Isso é sério demais para que o país fique calado. O movimento cultural cumpriu sua parte na campanha de Dilma. Dilma vacilou demais para escolher um nome para a Cultura. Mexeu onde não havia pressão política e desprezou os apelos do movimento cultural para que permanecesse o ministro Juca Ferreira. Reitero meu apoio ao governo da presidenta Dilma, mas ligo o sinal de alerta quanto á sua indicação para a cultura. Não vamos permitir retorcesso. Queremos ajudar o país e não vamos ficar parados assistindo ao circo pegar fogo. Se a ministra da cultura se mantiver na contramão da história que foi construída no governo Lula, o movimento cultural precisará se posicionar.

O LIVRO E A LEITURA – O debate sobre o livro e a leitura foi dos últimos a ser incorporado pelo Ministério da Cultura. No início me pareceu clara o esquecimento dos autores nesse debate. Uma coisa, aliás, que foi absorvida com naturalidade pela maioria dos escritores que, cá pra nós, não consegue se articular. Chamamos a atenção para que as vaidades pessoais não se sobreponham aos avanços em torno do reconhecimento desta atividade. Discutir política para o livro sem discutir o leitor (política de leitura) e o escritor (a criação literária) é abrir mão da essência do debate e entregar os pontos, favorecendo apenas o já milionário e fechado mercado do livro. As políticas públicas para o livro devem respeitar o leitor, facilitanto o acesso ao livro. Quando o presidente Lula resolveu, acertadamente, eliminar os impostos para baratear o livro, tinha intenções nobres. O trato era baratear o preço de capa e a criação do Fundo Nacional do Livro e da Leitura. Passaram-se sete anos e nada disso foi cumprido pelos barões editoriais.


POEMA DE ALEXANDRE BRITO






a língua
é uma serpente sem pele e sem dentes


emblemática
morde a si mesma com as gengivas de um velho diabo

já foi minha vizinha
mas no mês passado mudou para endereço ignorado
não bate bem do firmamento
tem a cabeçca cheia de vocábulos

a víbora linguística diz
que do pensamento é o substrato


no ápice do eclipse
em nominar o inonimado insiste


e só não é deus não porque não quer
mas porque ele não existe

algumas palavras


 

não usei o veneno
nem cumpri a tempestade
na parte que me cabe


não punguei minhas asas
nem fechei minhas páginas

segui caminhando com
as abelhas e as cigarras
: mel e canto do futuro

num traço delicado e denso
estirei minha alma para os
canteiros que colhem

as melhores chuvas


(poema vermelho – lau siqueira)

A POESIA QUE ME CABE - Por alguma razão alguém passa décadas e provavelmente a vida toda, escrevendo poemas. Logicamente que não apenas poemas, mas muito especialmente poemas - no meu caso. Palavras sempre jogadas na flutuação duma garrafa de versos. Palavras navegantes de águas profundas, respirando o vidro e o silêncio. É assim que se passam os dias nesta vida que aprendi a cuidar como um valor que vai muito além de mim. Escrevo sempre como se fosse a última palavra e como se sentisse uma estranha necessidade de me comunicar comigo mesmo nos dias que ainda nascerão.

O PAPO DOS BLOGS - Escrevi um artigo sobre a importância dos blogs para a poesia contemporânea. Um texto que repercutiu bem mais que eu esperava. Está entre os mais lidos do site Cronópios. Foi publicado no meu blog, Pele Sem Pele, www.lau-siqueira.blogspot.com , no jornal Contraponto e agora num site que eu não conhecia, cujo nome me foge no momento. (ainda resgato e apresento aqui) Além de exercitar permanentemente a linguagem poética, sem muitas pretenções, vou escrevendo sobre algumas questões do nosso tempo. Logicamente que com um olhar de minha inteira responsabilidade, seja do ponto de vista ético ou estético.

NAÇÃO PARATIBE - Paratibe é uma pequena comunidade quilombola da zona rural de João Pessoa cujo reconhecimento está sendo finalizado. Um processo bastante difícil uma vez que os interesses imobiliários na área desenham um cenário de uma lucrativa barbárie.  Ainda assim gostam do embate aberto. Estão desmatando de forma descarada uma área de preservação e querem, logicamente, também as terras quilombolas. Estão ameaçando pessoas. As famílias que lá residem sobrevivem da pesca e da agricultura há mais de 200 anos. O quilombo está pulsando. Agentes públicos da Prefeitura, do Estado, do Incra e do Ministério Público estão caminhando com a Associação Quilombola, para garantir os direitos da comunidade. E a palavra é avançar!


POEMA DE BRUNO GAUDÊNCIO


Eu
cheio de ossos e intenções
perturbo
com meus versos curtos
e dedos longos

o sentido das trevas que me
pertencem.

(Versos Íntimos, poema do paraibano Bruno Gaudêncio. Do livro O Ofício de Engordar as Sombras – Edições Sal da Terra-PB)





segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

tese de garimpo


(a morte não mede
             motivos
   nem acende
a coragem de beber
os olhos da sede)


(poema vermelho – lau siqueira)


CAOS E LETRAS - Mais uma boa publicação on line nos revela que a literatura contemporânea não apenas bebe na fonte, mas muito especialmente cumpre um traçado muito significativo na web. Cada vez mais vamos dissipando os preconceitos contra a literatura que explodiu na net, especialmente nos últimos dez anos. Ignorar a influência disso tudo nos processos criativos futuros é uma aberração. Seria como condenar ao passado o futuro da literatura. Mas, infelizmente esta é uma realidade. Com muita convicção, o blog Poesia Sim indica: conheça a revista Caos e Letras: http://i.webenviador.net/b/109124X200924428


“UMA AMEAÇA RONDA A WEB” I - Os cursos de Letras revelam uma realidade bastante curiosa. Enquanto alguns professores se mostram antenados com o que a literatura está experimentando no mundo inteiro, a partir da web, outros (penso que a maioria) ignora solenemente o que vem sendo produzido por escritores iniciantes e consagrados, nas bilhões de páginas da web. O risco de frear a história, no entanto, não existe. A realidade da literatura por esses dias e noites, não se sustenta na negação do que há de mais concreto. A literatura é uma das mais densas e concretas expressões da existência de vida no planeta Terra e, atualmente, das mais expressivas realidades do mundo virtual.


“UMA AMEAÇA RONDA A WEB”II - Ao contrário do que pregam alguns pastores de sombras, estamos vivendo um dos momentos mais ricos da história da literatura. Afinal, o maior escritor de língua portuguesa de todos os tempos pode estar inaugurando seu blog exatamente hoje. E não há política literária, por mais reacionária e empolada que seja, capaz de impedi-lo. Isso é o máximo! E se ele tem 19 anos, o que importa? Foram os escritos da juventude que consagraram Rimbaud.


“UMA AMEAÇA RONDA A WEB” III - “Conforme N. Katherine Hayles, no livro Literatura eletrônica – novos horizontes para o literário, ‘a literatura do século XXI é computacional’.” Esta citação foi extraída do artigo “A relevância dos blogs para a poesia contemporânea”, de minha autoria e publicado no jornal Contraponto, no blog Pele Sem Pele, http://www.lau-siqueira.blogspot.com/ e na minha coluna do site Cronópios: http://www.cronopios.com.br/site/colunistas.asp?id=4886 é um tema que será melhor desenvolvido nos próximos textos.
Este

UM MINICONTO DE CLÁUDIO B. CARLOS (CC)


"Eu gostava de ver. Sentia uma espécie de gozo, que só experimentava quando via o sangue escorrendo pelo pescoço rasgado. O capim ficava salpicado de um vinho forte. As folhas dos eucaliptos, que secas, eram trazidas pelo vento, se borravam de sangue. O brilho que sumia, aos poucos, dos olhos amendoados, arrepiava-me. Eu gostava daquele espetáculo. Não era por mal. Eu não sabia que era um menino mau. Ficava ali, acocorado, bem perto, vendo a ovelha dependurada pela perna. Eu não sabia muito bem o que acontecia, não imaginava que era ela, a vida, que se esvaía. Hoje em dia é bem melhor: além de ver o sangue que escorre, posso, às vezes, sentir a alma saindo dos corpos. Não via isso nas ovelhas: bicho não tem alma..."
(Do livro O uniforme. *Cláudio B. Carlos (CC) é poeta e prosador, nascido em 22 de janeiro de 1971, em São Sepé-RS. Desde 2005 publica na internet. Em 2010 criou O Bodoque, grupo de escritores. Publicou os livros Um arado rasgando a carne (2005) e O uniforme (2007). Contato: claudiobcarlos@gmail.com.)

sábado, 5 de fevereiro de 2011

cobaia







não existem feridas
que não cicatrizem
mas a marca funda
de um olhar amargo
dói como a dor de
um bicho esmagado

(Do livro O Comício das Veias, Ed. Idéia-PB, 1993)

EZRA POUND - Passam os anos, as décadas e penso que oABC da Literatura continua sendo um dos livros maism importantes de toda a minha vida, pelo que instiga no pensamento e na criação. Neste livro podemos encontrar ensinamentos maiúsculos como nesta frase: “Estou firmemente convicto de que se pode aprender mais sobre poesia conhecendo e examinando realmente alguns dos melhores poemas do que borboleteando em torno de um grande número deles.” (Tradução de augusto de Campos).

I CONCURSO LITERÁRIO SELETA CULTURAL - Até o dia 31 de março estarão abertas as inscrições para o I concurso Literário Seleta Cultural, da Livropronto Editora e concorra a outras premiações. A Livropronto premiará 3 obras, de qualquer gênero com o patrocínio da publicação e impressão da primeira tiragem (para o primeiro colocado) que será distribuída aos autores concorrentes. Os interessados devem enviar material digitado em formato doc ou pdf para livropronto@livropronto.com.br (assunto: I CONCURSO LIVROPRONTO). A única exigência para a inscrição é a aquisição de um ou mais livros da LivroPronto Editora, adquiridos exclusivamente em seu site, no valor mínimo de R$ 49,80. O texto inscrito deverá ser inédito. A Seleção será feita por votação aberta (e única) de todos que acessarem os textos na área Seleta Cultural no site da Editora. Regras e maiores detalhes na Seleta Cultural em www.livropronto.com.br/seleta

POEMA DE LEONARDO GANDOLFI




Quando nos encontramos também
encontramos duas vezes a morte.
Uma no passado, a da sua avó.
Outra no futuro, a da minha mãe.


O sinal não abre, estou atrasado
e acho que está claro ou tem ficado
que o problema não chega a ser
a nossa morte mas a dos outros.


Foi isso que nos aproximou,
será isso que nos afastará?
O sinal abre e amanhã é sábado
e se o tempo ajudar queira ir à praia.

(Canção, poema de Leonardo Gandolfi, do livro a Morte de Tony Bennett, Lume Editor)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

boca boca




sem mira
atiro em mim mesmo
às vezes

saio lanhado e disforme
e novamente me transformo
: assumo a interina forma

no mais
sou verso que voa
no espetáculo sem bis
do instante

(poema do livro Texto Sentido - LS)

LITERATURA EM CAMPINA - Faz muito tempo que durante o carnaval a cidade de Campina Grande realiza um evento chamado Encontro da Nova Consciência, onde se discute os velhos temas da "Nova Era". Pelo segundo ano consecutivo o evento abrigará, nos dias 6 e 7 de março, o Encontro de Literatura Contemporânea, organizado pelo núcleo Blecaute de Literatura. A temática abordada será "Entre Escritores e Editores: a trajetória dos Livros." Recebi e aceitei o gentil convite do poeta Bruno Gaudêncio para participar de uma mesa no dia 07 de março, às 10:30h, cujo tema é "Livro, leitura e literatura: a produção de eventos". A posposta é debater políticas públicas voltadas para a literatura na Paraíba. Também farão parte da mesa Roberto Azobel (PE) e Mirtes Valeska(PB).

MODERNISMO NA REDE - Realmente um blog pode muito. O escritor Luiz de Almeida criou um chamado Retalhos do Modernismo, onde coleciona fatos relacionados à Semana de Arte Moderna e seus principais personagens. Esta semana recebi e-mail de Luiz informando que em fevereiro o blog irá se transformar em site. Vale a pena conferir este blog cujo endereço é http://literalmeida.blogspot . Vale a pena conferir o post "Depoimento de Mário de Andrade sobre o livro Macunaíma".

ARTISTAS PB - Recentemente, em conversa informal com os amigos Milton Dornellas, Pedro Osmar, Déa Limeira e Fernanda Svendsen, concordamos que alguns assuntos culturais não chamam a atenção da mídia e a divulgação fica bastante restrita. Com o objetivo de "quebrar o gelo" criei o blog ARTISTAS PB para dar visibilidade para algumas atividades que não interessam muito aos jornais e TVs. Para minha surpresa, em menos de 48 horas o blog já contava com mais de 400 visitas, a grande maioria aqui mesmo da Paraíba. Espero que possamos cumprir um belo destino com o blog ARTISTAS PB. Confira: www.artistaspb.blogspot.com

POEMA DE ANTÔNIO BRASILEIRO




Furtava as cores de todas as peisagens
que colhia.
Um dia morreu
e um arco-íris bebia
seus olhos.

(Poesia e Loucura, poema do baiano Antônio Brasileiro, na sua Antologia Poética publicada pela Fundação Casa de Jorge Amado em 1996)

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

estand'arte





a noite geme
seus motivos na
sutileza do
gesto sugerido


(ócio de flores
exalando o sublime)

em nervuras

absolutamente
               secas

(lau siqueira – poemas vermelhos)

O CORTE E O VERSO – Uma amiga me fez pensar bastante sobre a minha relação com a invenção do poema. Ela se referia, mais precisamente, ao modo como estabeleço a “tortografia” (segundo Augusto de Campos) do verso. Na verdade, no geral, não uso o corte do verso para estabelecer o ritmo do poema. Pelo menos, não sempre (pra não dizer quase nunca). Na maioria das vezes, o corte serve exatamente para quebrar o ritmo e tornar a leitura uma aventura que somente irá se completar no leitor. A modernidade criou o verso polimétrico, um guardador dos oxigênios para o poema moderno e para a sua sintaxe. No meu caso, uso o corte do verso para que o leitor possa reinventar o poema e para que a invenção se complete num outro olhar. Mas, esse é um longo papo que ainda vou desenvolver de forma mais apurada. Provavelmente no meu outro blog.

CASA DAS ROSAS – Confirmado para o dia 19 de março o Sarau da Casa com a minha presença e com a presença do meu grande amigo, o poeta, tradutor e crítico, Amador Ribeiro Neto. As demais atividades para o Estado de São Paulo não se confirmaram e considero-as canceladas. Aproveito a oportunidade para agradecer o convite do poeta Frederico Barbosa, diretor da Casa das Rosas e grande articulador da poesia brasileira pelos dias e noites do século XXI.

FESTPOA LITERÁRIA – Com ajuda de amigos como Laís Chaffe e Fernando Ramos, vou lançar meu livro Poesia Sem Pele no final de abril ou início de maio, no FestPoa Literária, um Festival de Literatura realizado em Porto Alegre. O livro sairá pelo selo Casa Verde e o seu processo tem sido algo extremamente prazeroso, seja por e-mail, seja em papos no facebook com a editora e poeta Laís Chaffe. Com confirmação da presença e data ainda por ser confirmada, estimo que logo após estarei promovendo um lançamento aqui em João Pessoa.

POESIA DE LÍNGUA PORTUGUESA IV – O poeta Antônio Risério é tradutor, ensaísta, antropólogo e nasceu em Salvador(BA), em 1953. Entre outros títulos, publicou Ënsaio sobre o texto poético em contexto digital”, pela Fundação Casa de Jorge Amado, 1998 Teve seus poemas reunidos em Fetiche, também pela Fundação Casa de Jorge Amado. Entre os poetas traduzidos por risério, destacamos o chileno Vicente Huidobro.

POEMA DE ANTÔNIO RISÉRIO



Querido enigma:
estou bêbado.

Vou, como se diz,
pisando nas asas.

Paro numa estrela
e sorteio o mar.

Mas estranho
- e muito –

O meu e o teu
linjaguar.

(Leminskiana, poema de Antônio Risério, na antologia Na virada do século – poesia de invenção no Brasil – Ed. Landy-SP, org. Fred Barbosa e Cláudio Daniel)

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

bizarro




manifesto me
contra o que pareça
irremediavelmente
triste

manifesto me
contra as navalhas
do absoluto

vômito desse olhar
lapidado em sentidos
                    impuros


e acaricio o silêncio
            aos murros

(poema vermelho - lau siqueira)

CAIXA BAIXA (Esses Moços...) - Escrevi o título propositalmente em maiúsculas para definir a ousadia e a ironia (sempre tão necessária) de um grupo de escritores paraibanos, ainda jovens, mas suficientemente maduros para as aventuras planejadas da linguagem. Eles (e duas elas) se reuniram no último sábado, no Bar do Elvis (próximo à UFPB) para discutir saídas para suas produções. Mas, não era apenas isso. Também, para discutir política literária, ética, estética... E, sobretudo, para estender ao máximo um olhar agudo sobre a própria obra. A rapaziada chegou para mostrar a cara e desbravar os próprios horizontes na literatura paraibana e brasileira. Espaços, diga-se de passagem, conquistados pelo árduo trabalho com a palavra e pelas heranças históricas do futuro. Por sugestão de um deles, Roberto Menezes, o grupo se chamará "caixa baixa". Em breve o Brasil saberá de duas antologias, uma de prosa e uma de poemas, produzidas pelo grupo.

ÉTER NO RETORNO - Algumas vezes a estupidez e a incoerência tomam parte nas nossas emoções e se transformam em lágrimas ou em pedras ressecadas, escarpando pelas corredeiras tênues dos nossos rins.
A vida tem seus sustos e seus orgasmos, seus ir embora e os não sair jamais. A vida é o que supostamente se movimenta entre o alimento do músculo e a lucidez do olhar. Que nosso desejo de paz supere sempre as imposições da vaidade num mundo que rebola na merda. Reagir sempre. antes que até mesmo o muito cedo já seja tarde.

ANARQUIA BLOGUEIRA - Anunciei num dos últimos posts que iria percorrer um pouco a poesia de Língua Portuguesa. E vou fazendo isso aos poucos e sempre. Mas, hoje, eu não poderia deixar de publicar um poeta como Vasko Poppa, considerado por Haroldo de Campos um dos maiores poetas da Iugoslávia. O livro simplesmente saltou da estante para as minhas mãos. Não tive defesa.

POEMA DE VASKO POPPA


Sentamos no banco alvo
Sob o busto de Lenau


Nos beijamos
E de passagem falamos
Sobre versos


Falamos sobre versos
E de passagem nos beijamos


O poeta vê algo através de nós
No banco alvo
No pedregulho do caminho


E silencia
Com seus belos lábios de bronze


No Parque da cidade de Vrchatz
Aprendo lentamente
O cerne da poesia


(Aula de Poesia, poema de Vasko Poppa. Do livro Osso a Osso, com tradução de Aleksandar Jovanovic)

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

poeta interino






todo dia substituo um
cidadão de jeans san
dálias e cabelos gris
por um martelo e prego
        
sílabas no
branco da folha branca


      cada pan cada
   uma plêiade de me
        mória e lixo


todo dia
revelo o bêbado ocioso
que nada
.............nada
....................nada


e sempre é um rosto e
um nome ensacado em
minha pele


(do livro Texto Sentido, poema musicado e gravado por Patrícia Moreyra – LS)


I ENCONTRO DOS JOVENS ESCRITORES DA PARAÍBA – Neste sábado, DIA 15, às 15h, no Bar do Elvis (próximo ao Porteiro do inferno, no giradouro da UFPB), estará acontecendo o I Encontro de Jovens Escritores da Paraíba. Segundo o poeta Jairo Cezar, “O encontro, que será inicialmente informal, tem como propósito criar uma maior sociabilidade intelectual entre os jovens escritores da Paraíba, possibilitando assim a troca de informações, bem como de livros entre os futuros membros e/ou freqüentadores. A idéia é que futuramente este encontro permita uma série de projetos coletivos, tais como antologias, círculos de debates e eventos.” Para mais informações ligar para Jairo César (João Pessoa): (083) 8895 2705 e Bruno Gaudêncio (Campina Grande): (083) 8844 9131.


FEIRA LITERÁRIA DE BOQUEIRÃO – Convidado pela poeta Mirtes Waleska Sulpino, estarei participando de uma roda de diálogo sobre Literatura e Internet – o papel dos Blogs Literários no dia 26 de março, às 15 horas, em Boqueirão-PB. Esta edição da FLIBO terá como tema “Diversidade e Identidade Cultural: preservando os saberes e fazeres de um povo”. Também em março, a convite do Centro Educacional da Fundação Salvador Arena – CEFSA (ainda por confirmar), estarei em São Bernardo-SP, para ministrar oficina de poesia. No dia 19/03, estarei em São Paulo, no Sarau da Casa das Rosas.  Na última semana de abril participo do FestPoa Literária, em Porto Alegre, lançando o livro Poesia Sem Pele pela editora gaúcha Casa Verde. A agenda do início do ano, por enquanto, está posta.


POETAS DE LÍNGUA PORTUGUESA III – Neste post destacamos a poesia de Alda Espirito Santo, nascida em São Tomé em 1926. Sendo uma das mais conhecidas poetizas africanas de língua portuguesa, ocupou alguns cargos de relevo nos governos de São Tome e Príncipe, nomeadamente foi Ministra da Educação e Cultura, Ministra da Informação e Cultura e Deputada. Os seus poemas aparecem nas mais variadas antologias lusófonas, bem como em jornais e revistas de São Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Depois de publicar "O Jogral das Ilhas, em 1976, publicou em 1978 "É nosso o solo sagrada da terra", o qual é até ao momento o seu trabalho mais importante.

Angolares1


Canoa frágil, à beira da praia,
 panos preso na cintura,
uma vela a flutuar...
Caleima2, mar em fora
canoa flutuando por sobre as
procelas das águas,

lá vai o barquinho da fome.
Rostos duros de angolares1
na luta com o gandu3
por sobre a procela das ondas
remando, remando
no mar dos tubarões
p'la fome de cada dia.


Lá longe, na praia,
na orla dos coqueiros
quissandas4 em fila,
abrigando cubatas,
izaquente5 cozido
em panela de barro.


Hoje, amanhã e todos os dias
espreita a canoa andante
por sobre a procela das águas.
A canoa é vida
a praia é extensa
areal, areal sem fim.
Nas canoas amarradas
aos coqueiros da praia.
O mar é vida.
P'ra além as terras do cacau
nada dizem ao angolar1
"Terras tem seu dono".


E o angolar1 na faina do mar,
tem a orla da praia
as cubatas de quissandas4
as gibas pestilentas
mas não tem terras.


P'ra ele, a luta das ondas,
a luta com o gandu3,
as canoas balouçando no mar
e a orla imensa da praia.


(É nosso o solo sagrado da terra)

(1 - Angolar: grupo étnico são-tomense. Segundo a tradição portuguesa, sem confirmação científica, teria naufragado, em frente ao extremo sul da Ilha de São Tomé, um barco transportando cativos (1550). Estes, logrando alcançar a costa, teriam dado origem ao Povo Angolar. Admite-se, todavia, que os angolares tenham alcançados a Ilha por seus próprios meios, provenientes do Continente Africano; 2 - Caleima: ondulação forte do mar; 3 - Gandu: tubarão; 4 - Quissanda: tapumes feitos com folhas de palmeira; 5 - Izaquente: frutos cujas sementes são caracterizadas por um alto poder energético. – Fonte: http://betogomes.sites.uol.com.br/)

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

badalada




olhar de
tempestade

( a vida corre
densa pelos becos
vielas praças abrigos
calçadas

tudo
emerge na sede )

a vida e seus cascos
de palavras e viagens

tipo credence
best of

(poema vermelho - ls)

FLANAR ESTRELAS - Se algum livro me impressionou ultimamente, este livro é "A desumanização da arte", de Jose Ortega y Gasset. Não eixste ali, creio, o fechamento de uma idéia sobre a qual se deverá assentar a humanidade, mas a necessidade de uma reflexão permanente ao ofício da invenção e ao exercício do pensamento, seja ele qual for. A arte, venha ela das palavras, das tintas ou dos bemóis, sustenta o que se possa conceber enquanto exercício que se estende do racionalismo ao extremo dorso da pele. Enfim, um livro para uma leitura bastante apurada, bastante esfomeada para o que se possa dizer com elegância, com inteligência, com poesia...

TEORIAS DA LITERATURA - No prefácio do livro Teoria da Literatura 'Revisitada', de Magaly Trindade Gonçalves e Zina C. Bellodi, publicado pela Vozes, Benedito Nunes faz algumas provocações interessantes: "Antes conhecimento interpretativo que ciência, antes interpretação que explicação, antes compreensão de um objeto, que o constitui ao ser historicamente pensado, a Teoria da literatura dimensiona conceptualmente a existência do literário. Mas essa existência só toma corpo por meio da prática da leitura. Literatura rima com leitura. E por mais que varie a natureza do ato de ler, seja visual ou tátil, como a silente decifração Braille e a captação horizontal articuladora das palavras no espaço linear da página, seja ainda o luminoso e vertical desfile das linhas numa tela de computador, é esse mesmo ato que confere a existência do literário."

POESIA DE LÍNGUA PORTUGUESA II - Na edição de hoje vamos apresentar a poeta e tradutora brasileira Josely Vianna Baptista, nascida em Curitiba no ano de 1957. O poema de Josely Vianna Baptista que apresentamos a seguir, foi transcrito da antologia Jardim de Camaleões - a poesia neobarroca na américa latina, com organização, seleção e notas do poeta, crítico e tradutor, Cláudio Daniel.

VELU


Lúcido pergaminho, pele argêntea, de prata
(bolsa d'água, placenta), nas raízes aéreas. a cera
e a polidez da pétala encoberta: brácteas
que se abrem (túnica) e desabrocham: filandras
e nervuras na placidez selvagem - flor
e acontecimento que se desdobra em flor.
(Velâmens, em camadas, evoluem no ar.)

A gravidez sem peso dos pecíolos no limbo.

(poema de Josely Vianna Baptista, do livro Jardim de Camaleões)


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